sábado, 5 de janeiro de 2008

Como Desenvolver a Persuasão

Entrevista com a jornalista Mariana Hinkel da revista Visão Jurídica
Como desenvolver a persuasão?
Em primeiro lugar é preciso apresentar uma definição para persuasão e também fazer uma distinção entre persuadir e convencer.
A palavra persuadir vem do latim “Persuadere”, que significa aconselhar ou “levar a uma opinião”. Já o termo “convencer”, é derivado da palavra vencer, o que nos leva a concluir que a pessoa convencida foi antes de tudo “vencida” por uma argumentação.
A pessoa convencida pode ou não agir de acordo com as idéias de quem lhe convenceu. Por outro lado, quem foi persuadido, mesmo não concordando inteiramente com seu persuasor, acaba fazendo o que este lhe pediu, de livre e espontânea vontade.
Portanto, essencialmente, a persuasão é a capacidade de fazer alguém agir, usando algum tipo de comunicação. A persuasão apela para a vontade e para as emoções das pessoas, enquanto que o convencimento apela à inteligência e à razão.
Assim, para persuadirmos alguém, devemos procurar conquistar esta pessoa utilizando uma comunicação agradável com um relacionamento de empatia, e ao mesmo tempo apelando sempre para suas emoções e sua vontade.
Quais são as principais técnicas para tornar-se persuasivo?
Aristóteles, que definia a retórica como “a arte de descobrir o que há de persuasivo em cada assunto”, nos mostra três caminhos para a persuasão no capítulo II de seu livro, Arte Retórica. Segundo ele, devemos apelar para a Vontade das pessoas, depois para a Sensibilidade e por último para sua Inteligência. Existem pessoas que se guiam mais pela vontade, outras pela sensibilidade e algumas pela razão e inteligência. Portanto, ele defende que devemos apelar paras os três aspectos da psicologia humana, dando ênfase naquele em que a pessoa for mais influenciável.
Alem disto, para nos tornarmos persuasivo, é preciso observar dois aspectos principais na comunicação interpessoal: A forma e o tipo de linguagem.
• A forma como nos comunicamos desempenha papel fundamental no processo, pois é importante conquistar a simpática de quem vai ser persuadido desde o início. Através da postura corporal, dos gestos e do tom de voz, é possível conseguirmos obter confiança e credibilidade. A empatia facilita muito o processo persuasivo.
• O conteúdo da persuasão deve ser comunicado numa linguagem adequada ao tipo de pessoa que estamos tentando persuadir. Por exemplo, pessoas simples preferem que falemos numa linguagem simples, e as pessoas cultas, são mais sensíveis a uma linguagem intelectual. Alem disto, é preciso atingir o lado emocional destas pessoas, falando de coisas agradáveis, como também estimulando suas paixões. Estes são excelentes modos de persuadir
Quais são as táticas mais usadas para uma boa persuasão diante do juiz ou ao escrever uma petição?
É conhecida a fama de grandes juristas que utilizam a dramatização no tribunal do júri para influenciar jurados e até os juizes em suas alegações. O que eles fazem, essencialmente, é apelar para o lado emocional das pessoas.
Mesmo no contato direto com o juiz, que se guia pelas leis e pelo lado racional, é possível ao advogado apelar para a condição humana do magistrado.
Cada tipo de pessoa é melhor influenciada por determinados aspectos num processo de persuasão. Fazendo uma generalização com o objetivo de demonstrar este processo, diríamos, por exemplo, que as mulheres tendem a ser mais influenciadas por argumentos que demonstram beleza, sensibilidade e coisas agradáveis. Para persuadir comerciantes, devemos apelar para argumentos práticos como ganho financeiro, por exemplo. No caso dos magistrados, a melhor forma de persuadi-los é apelar para argumentos que envolvam justiça, credibilidade, honra, bem comum e as leis.
Com relação à petição, esta se presta mais para o convencimento do que para a persuasão, pois os aspectos subjetivos e emocionais não poderão ser destacados nesta forma de comunicação. No entanto é preciso que o advogado tome bastante cuidado com a maneira como defende suas argumentações na petição, pois apresentá-la de forma inadequada poderá comprometer seus objetivos. Há casos de juizes que pediram até a expulsão do advogado, pela OAB, em função de se sentirem ofendidos na forma como as petições foram apresentadas.
A persuasão também é importante em cargos como o de juizes e promotores?
A persuasão torna-se a cada vez mais importante em praticamente todas as profissões. Hoje em dia não é mais possível conseguir cooperação das pessoas através da força, da imposição ou fazendo valer a hierarquia; esta época esta superada. O termo “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, não encontra mais espaço para ser utilizado nos dias atuais.
Um juiz ou promotor que tem por hábito utilizar o poder da persuasão para conseguir a cooperação das pessoas, em geral, conseguirá melhores resultados profissionais e terá menos atritos de relacionamento, sem prejudicar sua autoridade.
Por exemplo, a capacidade de persuasão de promotores e juizes pode facilitar muito a ocorrência de conciliação entre as partes de um processo, evitando demandas longas e custosas para o serviço público e para todos os envolvidos.
A persuasão também é importante no relacionamento com o cliente?
O relacionamento com os clientes pode ser uma das principais táticas de marketing para um advogado. Uma comunicação persuasiva promove relacionamentos excelentes e duradouros, possibilitando que o profissional consolide sua marca e obtenha continuamente indicação de novos clientes.
Além disto, a persuasão ajuda o advogado a obter maior cooperação de seus contratantes durante todo o processo.
Que argumentos evitar?
Sob nenhum pretexto o advogado deve utilizar falsos argumentos, mentiras e termos excessivamente técnicos, que fogem à compreensão de seus interlocutores. Deve procurar ser sincero, pois sem sinceridade não haverá persuasão. Uma das maneiras de um orador tornar-se eloqüente e persuasivo é transmitir sinceridade.
Como convencer sem parecer "pedante"?
O profissional torna-se pedante quando tenta se mostrar superior ao seu interlocutor, seja culturalmente ou sobre outros aspectos. Fatalmente esta tentativa criará uma barreira que dificulta a comunicação.
Para persuadir é necessário justamente o contrario, mostra-se próximo ao interlocutor, desenvolver empatia e simpatizar com as idéias de quem vai ser persuadido.
Obras recomendadas?
Entre muitas obras interessantes para desenvolver a habilidade de persuasão citaria duas principais, por conterem idéias práticas e fáceis de serem assimiladas por qualquer profissional. A Primeira sugestão é o livro “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas”, escrito por Dale Carnegie (Companhia Editora Nacional, 1981), que é um dos mais importantes já escritos sobre relações humanas. Outra sugestão é o livro “Como Persuadir, Falando”, (Editora Tecnoprint, 1978), do advogado Marques Oliveira.
Que dicas você dá para um operador do direito que deseja ser mais persuasivo?

Apesar de perceber que esta tendência está começando a mudar, como consultor de Marketing Jurídico, tenho percebido que ainda existe no setor uma cultura mais voltada para os embates do que propriamente para a negociação e o bom relacionamento interpessoal.

Minha sugestão é para que os operadores do direito comecem a desenvolver, além dos aspectos técnicos de sua profissão, também as competências comportamentais relacionadas à inteligência emocional, como empatia, comunicação interpessoal, motivação, liderança e negociação.

Alem disto, algumas dicas poderão ser bastante úteis.

• Procurar fazer elogios sinceros às pessoas, em seus relacionamentos.
• Dar atenção, ouvir de fato e interessar-se pelas pessoas.
• Evitar criticar e condenar quem quer que seja.
• Sorrir sempre que possível.
• Tratar todos pelo nome.
• Evitar discussões.
• Evitar queixar-se demasiadamente.

Estas são algumas regras de relações humanas que, se utilizadas habitualmente, farão com que nossa capacidade de persuasão seja automaticamente melhorada.

O que é um texto persuasivo?

Quando um texto busca sensibilizar o lado emocional de seu público alvo, utilizando uma linguagem adequada a este público, de forma clara e objetiva, ele pode ser considerado persuasivo, pois tem grande chance de alcançar os objetivos da persuasão, que é fazer as pessoas agirem.


Ari Lima

Empresário, engenheiro civil, escritor, consultor e especialista em marketing pessoal e gestão de carreira.
contato@arilima.com
www.arilima.com
http://ari-lima.blogspot.com

A Liderança Segundo Maquiavel – Capítulo 4

Lideranças conquistadas de forma nefasta ou cruel

Existe outra forma de conquistar um cargo de liderança que não seja por valor próprio, por sorte ou por ajuda de terceiros. Trata-se de quando, por atos maus ou nefastos, se chega à liderança. Esta forma de conquistar o poder dentro das organizações é mais comum do que se admite abertamente. Tanto em empresas pública quanto nas organizações privadas. Nas grandes e pequenas corporações encontramos freqüentes exemplos de lideres que, para conquistar cargos de chefia, utilizaram expedientes do qual não se podem orgulhar.

Maquiavel abordou este assunto mostrando que ao longo da historia muitos governantes utilizaram da crueldade e malvadeza para conquistar cargos e, passados mais de cinco séculos de sua abordagem, percebemos que, apesar da evolução de nossa civilização, a natureza humana permanece a mesma com relação à luta pelo poder. Nos dias atuais continuamos assistindo golpes de estado e a tomada do poder de forma cruel e violenta em muitos paises da América Latina, África e em outras regiões do mundo.

Há poucos dias presenciamos o assassinato da líder paquistanesa Benazir Bhuto, que liderava as pesquisas nas próximas eleições em seu país. Este fato nos mostra que ainda é muito presente em nossa sociedade a utilização de meios nefastos para a conquista do poder.

Nas organizações empresariais, nacionais e multinacionais, nos departamentos de governos e nas empresas públicas também ocorre, com uma freqüência maior do que a admitida publicamente, a utilização de comportamentos inadequados e nefastos na luta por cargos de chefia. Um bom exemplo é famosa disputa pelo poder ocorrida no final dos anos 70, em que o então presidente da Ford Motor Company, Henry Ford II, neto do fundador da Ford e presidente do conselho, teve contra o então presidente executivo da empresa, o lendário Lee Iacocca, que depois se tornou presidente da Chrysler, salvando esta empresa da falência.

Em sua autobiografia, Iacocca relata um processo de anos de perseguição sofrida por ele, executado por Henry Ford II, que culminou numa ação de investigação. Esta ação consumiu centenas de milhares de dólares, desgastes para a companhia e terminou com a demissão de Lee Iacocca e em seguida com a aposentadoria do próprio Henry Ford II.

Recentemente, outro escândalo que teve repercussões internacionais foi a disputa entre Carly Fiorina, ex-mulher mais poderosa do mundo dos negócios e ex-presidente da Hewlett-Packard (HP), bilionária empresa de tecnologia, e dois ex-membros do conselho de administração, Jay Keyworth e Tom Perkins, que foi parar nas páginas do Wall Street Journal.

A ex-presidente da HP publicou uma biografia explosiva, denunciando as perseguições sofridas por parte dos ex-diretores da empresa, onde revela os processos de intrigas que envenenaram a elite desta grande corporação americana.

Estes exemplos nos mostram que muitos cargos nas empresas são conquistados de forma nefasta e, neste caso, o líder que esteve envolvido neste tipo de disputa terá de compreender a natureza de seu poder, e saber agir de maneira adequada para superar as dificuldades inerentes a esta situação.

Não pretendemos fazer considerações morais, pois para fazê-las precisaríamos conhecer o contexto de cada situação e julgar os procedimentos éticos dos lideres que assumiram cargos a partir de disputas onde ocorreram atos de crueldade, perseguições e comportamentos inadequados de parte a parte, e que naturalmente um lado saiu vitorioso e o outro derrotado. Neste caso, sugerimos que as organizações possam criar sistemas gerenciais que impeçam estes comportamentos.

No entanto gostaríamos de analisar a colocação de Maquiavel para estas ocasiões, observemos o que diz:

“Por isso é de notar-se que, ao ocupar um Estado, deve o conquistador
exercer todas aquelas ofensas que se lhe tornem necessárias, fazendo-
as todas a um tempo só para não precisar renová-las a cada dia e
poder, assim, dar segurança aos homens e conquistá-los com benefícios,
Quem age diversamente, ou por timidez ou por mau conselho, tem sempre
necessidade de conservar a faca na mão, não podendo nunca confiar em
seus súditos, pois que estes nele também não podem ter confiança
diante das novas e contínuas injúrias. Portanto, as ofensas devem ser
feitas todas de uma só vez, a fim de que, pouco degustadas, ofendam
menos, ao passo que os benefícios devem ser feitos aos poucos, para
que sejam melhor apreciados. Acima de tudo, um príncipe deve viver com
seus súditos de modo que nenhum acidente, bom ou mau, o faça variar:
porque, surgindo pelos tempos adversos a necessidade, não estarás em
tempo de fazer o mal, e o bem que tu fizeres não te será útil eis que,
julgado forçado, não trará gratidão”.

Segundo o pensamento de Maquiavel, uma vez passado o momento da disputa pelo poder dentro das organizações, o novo líder deve se abster de continuar praticando os atos nefastos que o fizeram conquistar o cargo, pois segundo suas próprias palavras:

“Faça o mal de uma vez e o bem aos pouco. O conquistador deve
examinar todas as ofensas que precisa fazer, para perpetuá-las todas
de uma só vez e não ter que renová-las todos os dias. Não as
repetindo, pode incutir confiança nos homens e ganhar seu apoio
através de benefícios. (...) enquanto os benefícios devem ser feitos pouco
a pouco, para serem melhor apreciados”.

Estamos chegando a um momento, nesta análise sobre a liderança segundo o pensamento de Maquiavel, que devemos analisar as organizações conforme a realidade dos fatos e não de acordo com o “mundo perfeito” descrito por muitos autores que de certa forma apresentam situações organizacionais que não existem na prática.

O estudo sobre a liderança conforme a presente abordagem será útil não apenas aos profissionais na consolidação de seu poder nas empresas, mas principalmente às organizações para entender melhor a natureza das pessoas e com isto poderem criar sistemas e controles organizacionais que possam prevenir situações indesejáveis e abusos que prejudiquem estas organizações.

Portanto sugerimos ao líder que se viu envolvido em uma disputa pelo poder e foi forçado, por sua própria natureza “perversa” ou pelas circunstancias, a perpetuar atos cruéis contra outros profissionais para poder conquistar o cargo, que, para se manter no mesmo, precisará mudar sua conduta, pois a manutenção de tal comportamento poderá agravar a reação contra si e a médio e longo prazo provocará sua ruína.

Ari Lima
31 9918 1900
contato@arilima.com
Visite nosso grupo de discussão:
http://groups.google.com.br/group/a-lideranca
Obs. Estaremos publicando sequencialmente, nos próximos dias, cada um dos
dezessete capítulos que compõem esta obra, que esperamos possam
contribuir para esclarecer e ajudar na difícil tarefa de liderar
pessoas