Lideranças conquistadas de forma nefasta ou cruel
Existe outra forma de conquistar um cargo de liderança que não seja por valor próprio, por sorte ou por ajuda de terceiros. Trata-se de quando, por atos maus ou nefastos, se chega à liderança. Esta forma de conquistar o poder dentro das organizações é mais comum do que se admite abertamente. Tanto em empresas pública quanto nas organizações privadas. Nas grandes e pequenas corporações encontramos freqüentes exemplos de lideres que, para conquistar cargos de chefia, utilizaram expedientes do qual não se podem orgulhar.
Maquiavel abordou este assunto mostrando que ao longo da historia muitos governantes utilizaram da crueldade e malvadeza para conquistar cargos e, passados mais de cinco séculos de sua abordagem, percebemos que, apesar da evolução de nossa civilização, a natureza humana permanece a mesma com relação à luta pelo poder. Nos dias atuais continuamos assistindo golpes de estado e a tomada do poder de forma cruel e violenta em muitos paises da América Latina, África e em outras regiões do mundo.
Há poucos dias presenciamos o assassinato da líder paquistanesa Benazir Bhuto, que liderava as pesquisas nas próximas eleições em seu país. Este fato nos mostra que ainda é muito presente em nossa sociedade a utilização de meios nefastos para a conquista do poder.
Nas organizações empresariais, nacionais e multinacionais, nos departamentos de governos e nas empresas públicas também ocorre, com uma freqüência maior do que a admitida publicamente, a utilização de comportamentos inadequados e nefastos na luta por cargos de chefia. Um bom exemplo é famosa disputa pelo poder ocorrida no final dos anos 70, em que o então presidente da Ford Motor Company, Henry Ford II, neto do fundador da Ford e presidente do conselho, teve contra o então presidente executivo da empresa, o lendário Lee Iacocca, que depois se tornou presidente da Chrysler, salvando esta empresa da falência.
Em sua autobiografia, Iacocca relata um processo de anos de perseguição sofrida por ele, executado por Henry Ford II, que culminou numa ação de investigação. Esta ação consumiu centenas de milhares de dólares, desgastes para a companhia e terminou com a demissão de Lee Iacocca e em seguida com a aposentadoria do próprio Henry Ford II.
Recentemente, outro escândalo que teve repercussões internacionais foi a disputa entre Carly Fiorina, ex-mulher mais poderosa do mundo dos negócios e ex-presidente da Hewlett-Packard (HP), bilionária empresa de tecnologia, e dois ex-membros do conselho de administração, Jay Keyworth e Tom Perkins, que foi parar nas páginas do Wall Street Journal.
A ex-presidente da HP publicou uma biografia explosiva, denunciando as perseguições sofridas por parte dos ex-diretores da empresa, onde revela os processos de intrigas que envenenaram a elite desta grande corporação americana.
Estes exemplos nos mostram que muitos cargos nas empresas são conquistados de forma nefasta e, neste caso, o líder que esteve envolvido neste tipo de disputa terá de compreender a natureza de seu poder, e saber agir de maneira adequada para superar as dificuldades inerentes a esta situação.
Não pretendemos fazer considerações morais, pois para fazê-las precisaríamos conhecer o contexto de cada situação e julgar os procedimentos éticos dos lideres que assumiram cargos a partir de disputas onde ocorreram atos de crueldade, perseguições e comportamentos inadequados de parte a parte, e que naturalmente um lado saiu vitorioso e o outro derrotado. Neste caso, sugerimos que as organizações possam criar sistemas gerenciais que impeçam estes comportamentos.
No entanto gostaríamos de analisar a colocação de Maquiavel para estas ocasiões, observemos o que diz:
“Por isso é de notar-se que, ao ocupar um Estado, deve o conquistador
exercer todas aquelas ofensas que se lhe tornem necessárias, fazendo-
as todas a um tempo só para não precisar renová-las a cada dia e
poder, assim, dar segurança aos homens e conquistá-los com benefícios,
Quem age diversamente, ou por timidez ou por mau conselho, tem sempre
necessidade de conservar a faca na mão, não podendo nunca confiar em
seus súditos, pois que estes nele também não podem ter confiança
diante das novas e contínuas injúrias. Portanto, as ofensas devem ser
feitas todas de uma só vez, a fim de que, pouco degustadas, ofendam
menos, ao passo que os benefícios devem ser feitos aos poucos, para
que sejam melhor apreciados. Acima de tudo, um príncipe deve viver com
seus súditos de modo que nenhum acidente, bom ou mau, o faça variar:
porque, surgindo pelos tempos adversos a necessidade, não estarás em
tempo de fazer o mal, e o bem que tu fizeres não te será útil eis que,
julgado forçado, não trará gratidão”.
Segundo o pensamento de Maquiavel, uma vez passado o momento da disputa pelo poder dentro das organizações, o novo líder deve se abster de continuar praticando os atos nefastos que o fizeram conquistar o cargo, pois segundo suas próprias palavras:
“Faça o mal de uma vez e o bem aos pouco. O conquistador deve
examinar todas as ofensas que precisa fazer, para perpetuá-las todas
de uma só vez e não ter que renová-las todos os dias. Não as
repetindo, pode incutir confiança nos homens e ganhar seu apoio
através de benefícios. (...) enquanto os benefícios devem ser feitos pouco
a pouco, para serem melhor apreciados”.
Estamos chegando a um momento, nesta análise sobre a liderança segundo o pensamento de Maquiavel, que devemos analisar as organizações conforme a realidade dos fatos e não de acordo com o “mundo perfeito” descrito por muitos autores que de certa forma apresentam situações organizacionais que não existem na prática.
O estudo sobre a liderança conforme a presente abordagem será útil não apenas aos profissionais na consolidação de seu poder nas empresas, mas principalmente às organizações para entender melhor a natureza das pessoas e com isto poderem criar sistemas e controles organizacionais que possam prevenir situações indesejáveis e abusos que prejudiquem estas organizações.
Portanto sugerimos ao líder que se viu envolvido em uma disputa pelo poder e foi forçado, por sua própria natureza “perversa” ou pelas circunstancias, a perpetuar atos cruéis contra outros profissionais para poder conquistar o cargo, que, para se manter no mesmo, precisará mudar sua conduta, pois a manutenção de tal comportamento poderá agravar a reação contra si e a médio e longo prazo provocará sua ruína.
Ari Lima
31 9918 1900
contato@arilima.com
Visite nosso grupo de discussão:
http://groups.google.com.br/group/a-lideranca
Obs. Estaremos publicando sequencialmente, nos próximos dias, cada um dos
dezessete capítulos que compõem esta obra, que esperamos possam
contribuir para esclarecer e ajudar na difícil tarefa de liderar
pessoas
Nenhum comentário:
Postar um comentário