A Liderança Segundo Maquiavel
Uma introdução
Apresentar uma tese sobre liderança gera, em todos os sentidos que se queira analisar, um grande desafio. Em primeiro lugar existem diversas escolas de liderança pregando métodos diferentes, todos buscando alcançar o mesmo objetivo. Existem as escolas mais humanistas, outras democráticas, já algumas defendem uma forma mais autoritária de conduzir a liderança, e tantas outras formas de abordar o mesmo tema.
Escolhemos apresentar uma tese de liderança específica, influenciada na teoria de Nicolau Maquiavel sobre o assunto, fazendo as adaptações necessárias e, claro, incluindo conceitos modernos que estejam de acordo com as idéias citadas.
Não temos a presunção de estar apresentando a teoria definitiva sobre liderança, até porque não acreditamos que esta teoria possa existir. Apenas queremos apresentar uma forma de liderança que possa, de alguma forma e em determinadas circunstancias ser útil às organizações e às pessoas que ocupem cargos de chefia.
Gostaríamos de fazer dois alertas iniciais a todos que se ocuparem de conhecer as idéias aqui apresentadas. O primeiro, é sobre o termo “Maquiavelismo”, que tem conotação negativa, quando se fala em utilizar métodos escusos para obter determinados resultados. “Os fins justificam os meios, e, por isto, vale tudo para atingir os fins almejados, pensam algumas pessoas.”
Neste caso podemos dizer que, assim como o bisturi é um instrumento que pode ser utilizado para salvar vidas, mas também pode tirá-las, muitas das idéias aqui apresentadas podem ser usadas de uma forma positiva e útil nas organizações, como também de maneira negativa e danosa nas mesmas. Vai depender ética e das intenções das pessoas que irão utilizá-las.
Outra advertência que gostaríamos de mencionar é sobre a natureza do comportamento humano. Seria ideal que pudéssemos desenvolver uma teoria puramente humanista levando-se em conta que essencialmente as pessoas são boas e têm sempre comportamentos louváveis e previsíveis. No entanto, como nos alerta Maquiavel, devemos esquecer a fantasia ou a imaginação e tratar apenas da realidade, indo atrás da verdade efetiva das coisas.
Por isto, é necessário levar em conta um conjunto de fatores sobre o comportamento dos profissionais dentro das organizações que não são necessariamente dignos de elogios, mas que são a expressão da realidade em muitos casos.
Seria desejável que as pessoas tivessem apenas virtudes como: generosidade, fidelidade, piedade, coragem, franqueza, benevolência, bom humor, entusiasmo, disposição física e mental, entre outras boas qualidades. Mas a verdade é que encontramos também avareza, crueldade, covardia, pusilanimidade, truculência, superficialidade, inveja, cobiça, ambição desmedida, perversidade, intrigas e muitos outros desvios de personalidade.
Desta forma, o líder precisar levar em conta todas estas possibilidades de comportamentos. Muitas pessoas dentro das organizações chegam mesmo a precisar de algum tipo de tratamento e, no entanto, continuam trabalhando normalmente e desta forma prejudicando seus colegas de trabalho e os objetivos da organização. Por isto, às vezes será necessário tomar decisões duras e difíceis que desagradarão alguns, mas que serão benéficas para muitos.
Na obra “O Príncipe”, escrita no início do século XVI, Maquiavel desenvolve um estudo sobre a natureza das ações dos “príncipes”, termo que utilizava para designar todo mandatário que dirigia um país, região ou província independente, e do comportamento de seus liderados. O autor elaborou um verdadeiro tratado sobre como chegar ao poder e, mais importante, manter-se nele, de maneira eficaz. A partir da análise do comportamento humano, mostrou como um líder pode utilizar o conhecimento da natureza humana para influenciar as ações de seus liderados.
Através do conhecimento de obras clássicas cujos princípios sobreviveram através dos séculos é possível obter muita sabedoria e aplica-las nos dias atuais. Este é o caso dos consultores americanos, Al Ries e Jack Trout, que lançaram em 1986 o livro “Marketing de Guerra”, onde desenvolveram a tese do posicionamento tático estratégico das empresas frente à concorrência.
Suas idéias foram baseadas nas teses do General Prussiano Karl Von Clausewitz, em seu tratado ”On War” (1832), texto obrigatório nas principais academias militares do mundo. Neste livro, os autores demonstram de forma inteligente como é possível às organizações utilizarem os mesmos princípios da guerra convencional para alcançarem sucesso frente à concorrência.
Assim como o estudo das teses de Clausewitz permitiu que seus princípios fossem utilizados com sucesso pelas organizações a partir da analogia entre a guerra convencional e a batalha entre as empresas, também entendemos que muitas das idéias de Maquiavel, nesta obra, poderão ser úteis aos lideres nas corporações. Tanto em empresas públicas como nas privadas, e em diversas outras instituições, a difícil missão de liderar pessoas e obter o melhor resultado do trabalho delas poderá ser facilitada pela utilização das idéias aqui apresentadas.
Existem muitas questões sobre liderança, analisadas por Maquiavel em sua obra, que continuam incomodando executivos, diretores, gerentes e demais lideres empresarias na maioria das corporações atuais. Muitos dos conceitos abordados em sua obra “casam como uma luva” nas organizações, atualmente. Outros precisam de certas adaptações.
Para exemplificar podemos citar os títulos de alguns dos capítulos da obra “O Príncipe”:
• As qualidades pelas quais os homens, sobretudo os príncipes, são louvados ou censurados.
• A generosidade e parcimônia.
• A crueldade e a clemência: se é melhor ser amado do que temido, ou o contrário.
• Como evitar o desprezo e o ódio.
• Como um príncipe deve agir para ser estimado.
• Como evitar os aduladores.
O desafio de adaptar muitos destes conceitos à realidade das organizações atual, é, em parte, facilitado por ser a obra de Maquiavel um texto universal o suficiente para ter atravessado cinco séculos de história mantendo-se válido para uma grande gama de situações políticas e sociais. No entanto, no contexto em que apresentamos foi necessário fazer a adaptação para a área organizacional.
Nesta obra Maquiavel nos apresenta um estudo sobre a natureza humana isento de preconceitos e ética, o que nos obriga a também realizar uma análise sobre estes aspectos para melhor contextualiza-los em nossa realidade atual e utilizá-los de maneira útil para as pessoas e organizações.
Nos próximos capítulos estaremos fazendo exatamente isto: analisando passo a passo a obra “O Príncipe”, e extraindo as idéias que poderão ser utilizadas de maneira eficaz pelos lideres organizacionais, ou seja, diretores, executivos, chefes, gerentes, supervisores e demais cargos de chefia dentro das organizações para conseguir uma melhor produtividade de seus colaboradores.
Acreditamos que este estudo poderá contribuir de maneira efetiva e gerar um impacto positivo no resultado almejado pelos lideres organizacionais. No entanto fica um sinal de alerta: Maquiavel se isentou de considerações éticas na defesa de muitas de suas teses, por isto, solicitamos a todos que farão uso destas poderosas idéias, que possam guiar-se pelas melhores intenções para o bem das organizações e das pessoas que nelas trabalham, tendo como juiz sua própria consciência.
Ari Lima
contato@arilima.com
Blog http://ari-lima.blogspot.com
Participe do grupo de discussão sobre liderança
http://groups.google.com.br/group/a-liderança
Obs.
A partir dos próximos dias estaremos publicando sequencialmente cada um dos dezessete capítulos que compõem esta obra, que esperamos possam contribuir para esclarecer e ajudar na difícil tarefa de liderar pessoas.
v
Nenhum comentário:
Postar um comentário